Se passando na Segunda Revolução Industrial e acompanhando todos os traços marcantes que fizeram da série um ícone para o gênero – o simulador de gestão de cidades está de volta, e que volta.
Estamos em um dos períodos transicionais mais importantes da história. Onde o artesanal deu espaço ao industrial; máquinas pesadas, indústrias, poluição, e novos processos que priorizam a eficiência. Uma época que pinta um futuro marcado a sangue, por vezes marcado a óleo e petróleo.
Marcas estas que são transportadas de uma forma mais livre e bem desenvolvida, conduzida (agora) pelas mãos dos jogadores. A nova produção do estúdio Blue Byte é tudo aquilo que você pode esperar de um city building em tempo real.
JOGABILIDADE
À primeira vista, Anno 1800 é sólido e traz um início (no modo campanha) que pega em sua mão e se propõem a contar uma história envolvendo traição, descobertas e muita, muita reconstrução.
Servindo fundamentalmente como um pano de fundo para que você entenda suas mecânicas, nuances e se habitue com a jogabilidade expansionista – Anno já em suas primeiras horas decreta o que eu sempre pensei da série:
Anno sempre foi um jogo sobre equilíbrio. Manter seus habitantes no limite da satisfação aceitável ao mesmo tempo em que a economia se desenvolve abrindo concessões para que diplomacias possam ser feitas. Abdicar para conquistar, conquistar para progredir – aos moldes de ‘Civilization’. Porém, aqui temos um breve ‘twist’:
- + teor contemplativo
- – teor emergencial
Por um momento eu pensei sobre meu tempo em ‘Frostpunk’, título da 11 bits que em muitas ocasiões te obriga a tomar decisões, grande parte destas, difíceis e que trarão consequências diretas nos habitantes. Eles podem adoecer de fome, de frio, de trabalhar, ou podem simplesmente morrer – e isso de alguma forma cria uma nova camada, esta que prioriza o mais predatório e survival. O que realmente é um diferencial por lá.
Aqui a história é outra: muito embora suas falhas ainda possam representar problemas na diplomacia, economia ou até com seus residentes, há tempo para consertar – e essa contemplação e falta de urgência no contexto, dá espaço para algo novo e interessante.
Obviamente isso não significa que será sempre confortável gerenciar uma cidade regida a indústrias forçando-os a trabalhar 18 horas/dia. Mas, veja bem: nem sempre precisa ser assim.
Anno 1800 sobretudo, te dá opções – estas que poderão ser um apelo ao jogador mais estratégico e comprometido com resultados ou aqueles que só querem criar uma cidade que agrade seus habitantes e se atenha ao mínimo necessário.
Veja, os detalhes são de imensa satisfação aqui e o sentimento de ‘dever cumprido’ é algo que só um título deste gênero específico pode proporcionar. Derrubar um inimigo e descobrir que o mesmo carregava os ossos perdidos do pirata lendário Barbarossa é legal, mas colocá-lo no seu Museu e aumentar a popularidade da sua cidade por isso é recompensador pra c#r@*#o.
Veja isso em ação:
Estes pequenos e grandes momentos criam situações únicas e talvez a grande experiência do título esteja neste viés tão singular e difícil de se apontar. Não me leve a mal, a campanha principal não é ruim – embora simples; mas o verdadeiro gostinho mora no Modo Sandbox, e certamente no Online onde o tom muda drasticamente para algo (agora sim) mais emergencial.
Visualmente Anno 1800 é impecável. Das cachoeiras aos cardumes, dos cardumes aos colonos que estão sempre fazendo algo às carroças carregando minérios. cada pequeno detalhe em seu mapa pode ser explorado através do zoom e ser visto meticulosamente.
É impressionante ver uma cidade totalmente industrializada em movimento – onde cada setor desempenha uma tarefa, e esta observada em tempo real.
Confira você mesmo:
Perguntas rápidas:
- O quão longo é o jogo?
A campanha principal pode ser finalizada em cerca de 5 horas, ou 50 caso você seja detalhista e não siga exatamente os objetivos à primeira ordem.
- A AI é boa?
Na maioria dos casos, elas se comportam bem. Não espere demais: com diálogos básicos e ações por vezes muito previsíveis, espere por interações limitadas com outros líderes ou sua própria população. Nada surpreendente ou inesperado, mas satisfatório.
- O quão complexo é o combate?
Uma vez que os embates não são o foco do game, tudo é feito através de navios e barcos movidos à vela ou em canhões ao redor de sua ilha. Embora destruir todas as defesas de uma ilha com um navio à vapor possa ser satisfatório, não espere desembarcar tropas altamente equipadas e iniciar uma batalha em escalas maiores – Anno 1800 definitivamente não é este jogo.
- A interface está menos confusa que os jogos anteriores?
Em sua maioria todas as interfaces são competentes e conseguem dispor as informações de uma forma clara – porém em muitos casos ainda falta mais explicações e as missões são as mais prejudicadas neste sentido. E a falta de tradução para português complica ainda mais para quem não está acostumado.
Vale a pena?
Indiscutivelmente, Anno 1800 é um jogo para um nicho muito especifico. Este que aprecia movimentos estratégicos, se contempla ao realizar construções e ações sociopolíticas – além de explorar a economia em vários sentidos. Se aproximando muito da proposta de 2070 mas, agora com várias melhorias – não há como evitar elogios ao núcleo central do game -, que embora traga alguns deslizes colocando o jogador em várias situações repetitivas e burocráticas no “end-game”, é competente em todo restante.
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