Homem Irracional, novo longa de Woody Allen, mostra que o cineasta ainda consegue se reinventar, surpreendendo o público com um roteiro dinâmico e inteligente, usando como uma muleta eficaz o romance ‘Crime e Castigo’ do russo Dostoiéviski.
O longa, protagonizado por Joaquin Phoenix que vive o professor Abe Lucas em meio a uma crise existencial, comum em todos os personagens principais dos filmes de Allen, e por Emma Stone, que vive a jovem estudante Jill, uma excêntrica aluna de Lucas, que apaixona-se por ele, por conta de todas as complicações que este apresenta. O filme é inteligente e bem desenvolvido, mas não por essa primeira parte, que é a mais superficial.
e daí que Homem Irracional parte com louvor, com um roteiro aparentemente simples e evidenciando um romance em sua primeira camada, o longa nos engana, mostrando que ele não é apenas só isso, e é por conta disso que Woody Allen ainda é um dos melhores roteiristas dos últimos vinte anos.
O romance, que parece ser o centro do filme dissolve-se em uma discussão filosófica sobre ação, reação, crime e impunidade, tema este, abordado com louvor no romance russo ‘Crime e Castigo’, e que Allen cita em seu roteiro sem floreios, deixando claro de onde veio sua inspiração para seu roteiro.
Com uma fotografia excelente, um roteiro com diálogos rápidos e atuações primorosas, Homem Irracional, mostra mais uma vez que Woody Allen ainda tem muito o que mostrar ao mundo do cinema, seja em sua direção que cada vez evoluí mais, ou em seus roteiros, dinamicamente escritos, que ora mostram sutis referências a obras literárias, outros filmes, ou músicas, ou, como é o caso desse filme, apoiam-se totalmente na ideia de outro autor, e a transfere primorosamente às telonas, sem perder a sua identidade, e como sempre, fazendo do personagem principal uma imagem sua.
Homem Irracional pode não ser o Woody Allen de seus tempos áureos, mas sim uma retomada do que o diretor não fazia há muito tempo, e talvez seja a sua especialidade. Deixando de lado o foco na locação como foi visto em seus filmes mais recentes (Matchpoint – Londres, Para Roma Com Amor – Roma, Meia Noite em Paris – Paris), para trazer um pouco do Allen que estávamos habituados como em Desconstruindo Harry ou o aclamado Annie Hall, então, seu novo longa é um retorno às raízes, preocupando-se muito mais com o drama interno das personagens do que fazendo a cidade em que o filme está sendo rodado uma personagem, e se não for pela trama, pelas atuações, ou pela direção primorosa, esse é o maior acerto de Homem Irracional, já que agora, temos a esperança de vermos o cineasta, em seu auge de técnica como diretor fazer filmes com o mesmo teor e humor negro que ele fazia em seus primeiros anos na indústria cinematográfica.
Se o Homem Irracional não falar diretamente com você, não se preocupe, é porquê este parece ser muito mais um filme de auto descoberta do que um filme para o público. Agora é esperar o próximo filme do diretor, que já começou a ser gravado enquanto eu redijo essa crítica e ter a esperança de vermos um Woody Allen de raiz no ano de 2015.
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