Não é pelo seu visual belíssimo, pelos refinamentos no combate, subjetividades da história ou até mesmo cenários meticulosamente mais bem estruturados do que estávamos acostumados. Dark Souls em seu terceiro título nos mostra algo que dificilmente vemos por aí: um produto que tem valor, não só preço. E isso muda tudo.
A era dos Ancestrais se iniciou, o fogo surgiu. A disparidade aconteceu. Com ela, frio e calor, morte e vida, trevas e luz. Entidades logo encontraram almas poderosas, e uma guerra foi travada para destronar os Dragões do poder. Um traidor, um vencedor. O que viria a frente se resume em fogo, mas o que acontece quando ele desvanece? E quando só restam cinzas? Se todo ciclo tem começo, e eventualmente um fim, O que vem após isso? Sobretudo, quem pode parar isso? Você? Não, você não pode. Ou pode? Inacesso.
Desenvolvido pelo mesmo estúdio que nos trouxe King’s Field, Tenchu, Armored Core, Enchanted Arms chegando à amada série Souls, Hidetaka Miyazaki, hoje presidente da From Sofware é certamente a alma de uma das franquias mais amadas da atualidade. Buscando referências em obras de autores como H.P Lovecraft (O Chamado de Cthulhu), Robert W. Chambers (Rei de Amarelo), Kentaro Miura (Berserk) além de outras visões sombrias, Hidetaka conseguiu a proeza de criar um universo onde várias imaginações do gênero coexistem sem atrapalhar a identidade própria – marca registrada do que falaremos hoje.
Dark Souls 3 é um título que consegue expandir seu próprio conceito, injetando novas ideias e alterando certos aspectos com base no feedback dos jogadores introduzindo uma porção de novidades extremamente interessantes a todos os fãs e até mesmo aos marujos de primeira viagem.
Não tocaremos muito em sua história, aspecto repleto de mistérios abrindo portas para várias interpretações. Entretanto, podemos confirmar que o terceiro título consegue fechar várias lacunas entre o primeiro e segundo episódio; conquista esperada e merecida a todos aqueles que a acompanharam e a investigaram através de vários itens espalhados contendo fragmentos do que em outrora foi uma realidade viva. Podemos dizer somente que o game injeta novos conceitos e aproveita dos antigos como alicerces para mecânicas e apoios para fundamentar o que estamos vivendo, e é claro – o seu objetivo neste decrépito mundo.
Customização aprimorada
Se você sempre odiou criar seu personagem na série, erga suas mãos ao céus pois a criação de personagem foi melhorada. É possível escolher cortes de cabelo, estilos de barba, melhorar vários aspectos do rosto, e tipos de corpo além da musculatura; tatuagens, cores e outros itens também dão uma esquentada na hora de produzir seu guerreiro. Detalhe: é possível salvar suas criações para aproveitá-las caso opte por criar outros personagens futuramente utilizando o mesmo modelo.
Classes
Em Dark Souls III o sistema de classes traz novos nomes com é claro, características de status únicas, armaduras e itens iniciais idealizados para arquétipos pré-definidos (ao menos no início). Portanto temos: Cavaleiro, Mercenário, Guerreiro, Arauto, Ladrão, Assassino, Feiticeiro, Piromante, Clérigo e o tradicional para jogadores experientes Despojado (ou Deprived para os íntimos).
Vale lembrar também que na série sua classe inicial não lhe proibirá de se aventurar como um Mago, ou de por exemplo dominar a arte do fogo vindas dos Piromantes. Tudo aqui é possível com muita dedicação e uma distribuição de pontos em atributos certos.
Jogabilidade
Partindo do renomado sistema de batalha vindo de Demon’s Souls e aprofundado em Dark Souls com devidas reformulações, toda essa fórmula é colocada em uma encubadora para dar vida ao que temos no novo título: as ações estão mais rápidas e dinâmicas, e isso traz uma nova perspectiva ao jogarmos à 60fps produzindo um ambiente extremamente hostil e que requere o dobro de sua atenção e estratégia nos combates.
A fluidez também parece melhor, e ao lado do novo elemento de batalha intitulado Weapon Arts temos habilidades especiais para as armas, algo que traz um + (plus) nos embates permitindo aos jogadores uma nova perspectiva de como agir. Há armas onde podemos disferir rajadas de fogo, outra que joga os inimigos longe através de uma estocada bem executada, e vários exemplos contextuais com cada arma escolhida.
Mas para que não haja abuso do novo recurso, temos um elemento chamado Focus Points (FP) que para os fãs tradicionais de RPG nada mais é que a clássica barra de Magic Points (MP). A barra adicional já foi vista em Demon’s Souls e sua volta traz um impacto nas classes mágicas – já que a dinâmica de uso das mesmas muda visto que os olhares precisam estar atentos ao seu numero de FPs disponíveis.
A boa notícia é que agora é possível utilizar Estus Flask das Cinzas (uma versão azul da poção), uma variação que afeta diretamente os Focus Points o recarregando.
Visuais
Sendo o título mais belo da série, todos os cenários trazem uma qualidade exuberante em detalhes – e se aliarmos essa característica ao fator exploração e a necessidade de quebrar cada caixa ou ir em cada canto com o intuito de encontrar novos itens e desvendar novos segredos, se torna ainda mais impressionante notar que os desenvolvedores produziram algo tão meticuloso. A principal diferença aqui para os outros jogos fica por conta da escala do mundo. Notamos construções maiores e mais bem elaboradas, recheadas de caminhos alternativos e um emaranhado de inimigos construindo um ecossistema único que só o universo de Dark Souls pode nos proporcionar.
Embora não haja realmente uma variação absurda em parte das localidades, temos certamente vários refrescos, deleites visuais e até mesmo momentos de extrema claustrofobia em cavernas ou corredores fechados – tudo isso – bem ao lado do perigo, que está a espreita a todo momento. Lothric tem uma identidade própria e é muito gostoso se deparar com um castelo enorme a sua frente em uma bela visão de paisagem, e futuramente explorar o tal local. Isso dá mais autenticidade à obra e como em jogos passados traz marcas registradas da franquia.
Trilha sonora de tirar o fôlego
A parte sonora é uma obra de arte a parte, e com composições contextuais que engrandecem cada área ou chefe, é impressionante notar o quanto tal aspecto dita o tom do momento. Yuka Kitamura e Motoi Sakuraba entregam um trabalho não só de extrema qualidade, mas de uma importância inimaginável.
Destaque para as faixas ‘Soul of Cinder’ e ‘Abyss Watchers’.
Covenants
O icônico sistema de facções está de volta ao mórbido mundo da série, e agora com pequenas reformulações e várias adições de nomes que certamente afetarão sua aventura em jogatinas online! Volta o clássico e extremamente optado pelos fãs Warriors of Sunlight, e ao lado temos Way of Blue, Blue Sentinels, Blades of the Darkmoon, Rosaria’s Fingers, Mound-Makers, Watchdogs of Farron e Aldrich Faithful. Vale lembrar que cada Covenant tem suas próprias regras, conceitos, maneiras únicas de se adentrar e subir em escalões.
Confira mais detalhes sobe cada uma delas clicando aqui.
Inimigos e Chefes
Um dos grandes diferenciais aqui está por conta da diversidade. Você encontrará em sua jornada cavaleiros amaldiçoados, cachorros demoníacos, aranhas, gigantes, mímicos, feiticeiros amaldiçoados, ratos gigantes e uma infinidade de bestialidades tendo realmente seu peso no combate, se diferenciando de todos os outros.
Talvez este seja um dos pontos mais interessantes na aventura: tudo tem sua própria identidade, portanto é sentido pelo jogador o estilo de um monstro que utiliza uma espada para um cavaleiro amaldiçoado, por exemplo. E justamente neste ponto entra a dinamicidade nos embates, já que existe uma melhoria muito considerável na inteligencia artificial geral, proporcionando momentos onde você se sentirá um total idiota por ver seu inimigo tomando Estus Flask e recuperando toda a sua vida em sua frente. Espere por emboscadas, combates táticos e inimigos bem mais inteligentes do que os títulos passados.
O destaque aqui fica por conta dos chefes, todos exuberantes e com mecânicas únicas desafiando o jogador ao máximo! São 19 deles espalhados por vários mapas, todos em lugares únicos e repletos de variações de ataques e alternâncias de estilos – portanto nada de decorar a maneira como a monstruosidade gigante se move. Eles se adaptam ao seu estilo de jogo e alternam criando um clima extremamente desafiador e igualmente recompensador ao final de cada batalha. Observação especial para uma personalidade intitulada Nameless King que anda tirando o sono de muitos por aí.
Modo Online
Amplamente amado pela comunidade e sendo um alicerce na jogabilidade, o modo online é um fator que ao longo de todos os jogos da franquia conquistou o coração de todos os jogadores – seja pelo seu fator co-op amigável, seja pelo invasivo sistema de PVP.
Aqui temos uma novidade muito pedida: vinda diretamente de Bloodborne, agora podemos parear partidas com amigos através de senhas – fazendo com que seja muito mais fácil entrar em uma determinada partida combinada eficientemente. Melhor do que isso, agora é possível até mesmo se comunicar por voz – outra inclusão muito benigna para o modo.
Como comentado no tópico sobre as facções, elas podem (e irão) influenciar no ecossistema deste modo, portanto é recomendado que o jogador leia as descrições de cada uma sabiamente para que possa entender seu papel online.
Pequenos problemas no lançamento
Embora o game da From Software tenha todos os motivos para que você volte – saiba que ele já sofreu de vários problemas técnicos – tais como travamentos, problemas na performance e balanceamentos que prejudicaram a harmonia do título. Entretanto, com 5 atualizações lançadas, é sabido que grande parte do que foi citado já foi resolvido.
Vale a pena?
Fazendo referências diversas ao primeiro título, e conseguindo fechar certas lacunas enquanto outras são abertas – Dark Souls III é um prato cheio a todos aqueles que amam a série. Tudo vem triplamente melhorado e com um gostinho de desafio que só a franquia consegue proporcionar. Junta-se isso aos vários cenários e a um modo online estável, melhorias no combate e várias outras implementações relevantes, e temos a obra prima que representa o fim de um ciclo – ou quem sabe: o começo de outro.
Agarre seu lugar ao sol, e o glorifique – todo glamour e elementos que lhe fizeram amar tudo isso está de volta.
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