Análise: Estratégico e polido ‘The Division 2’ é surpreendente

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Categoria: Games, PC, PS4, Review, XBOX ONE

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E se, em pleno 2019, houvesse um Looter Shooter realmente bom?

Parece ontem, mas há 5 anos saia a então nova IP da Ubisoft, revelada em uma das E3 e descrita como “Uma nova geração de shooters”. The Division saiu em março de 2016, recebeu inúmeras crítica negativas, alegações quanto seu downgrade nos gráficos – e com isso aprendemos algo importante.

Não devemos confiar em nenhum conteúdo promocional.

Após isso, vida que segue: Anthem foi anunciado, lançado, e nossa análise não foi… bem… a melhor impressão de um título em desenvolvimento a mais de 5 anos e encabeçado por um dos maiores estúdios da atualidade.

Até parece uma maldição, mas é impressionante como poucos jogos do gênero coletar & atirar conseguem alcançar o agraciamento do público de uma forma definitiva. Warframe demorou, por cerca de 5 anos até se estabelecer como uma experiência completa e – mesmo assim, foram anos de reclamações: “falta conteúdo”, “é muito repetitivo”, “o PvP é desbalanceado”, a lista continua.

Neste momento de reflexão nos questionamos um pouco: “por que tantas grandes desenvolvedoras não conseguem acertar?” E foi justamente aí, que a sequência de The Division – lançada em 15 de março, há cerca de um mês (da data de publicação deste artigo), conseguiu me responder essa mesma pergunta.

Antes de qualquer coisa, precisamos de um pouco de contexto aqui: The Division 2 se passa 7 meses após os eventos ocorridos no primeiro título. Estamos no verão de algum ano não revelado e trocamos os cenários repletos de neve em NY por Washington D.C. uma das cidades mais importantes para a história americana, detalhe este muito aproveitado na trama da sequência.

Notas envenenadas

Para os marinheiros de primeira viagem, temos aqui algumas explicações sobre o pano de fundo: em uma Black Friday, terroristas colocaram uma variação do vírus da varíola em notas de dólar – e com isso um grande tumulto é causado. Pessoas são contaminadas, uma evacuação é feita – hospitais superlotados, e serviços básicos começam a falhar, um a um. Assim, chegamos no ponto em que estamos: uma distopia onde a sociedade é quebrada, e o que sobra é uma grande ferida aberta.

Arruaceiros agora têm suas próprias facções e dominam as ruas. Pessoas são saqueadas e eventualmente mortas. E em todo este cenário apocalíptico, temos a Divisão. “Lutando para prevenir a queda da sociedade e ordenar novamente a cidade, os agentes irão dar por si dentro de uma conspiração internacional, forçados assim a combater não apenas um vírus criado pelo homem, mas também as ameaças daqueles que o soltaram. Quando tudo entra em colapso, a missão da Divisão começa.”

Dada a devida introdução, vamos ao que importa.

JOGABILIDADE

The Division 2 é dinâmico, e falar sobre sua jogabilidade não é nem de longe tão simples como poderia ser. Aqui comandamos um dos agentes da Divisão, e à primeira vista temos uma belíssima tela de customização de personagem – nos permitindo alterar entre arquétipos (seja masculino ou feminino) e customizá-los com uma certa liberdade. Você pode alterar cabelos, tatuagens, tipo de barba entre outros.

Ao se adentrar no game pela primeira vez, talvez haja um certo estranhamento por parte dos jogadores novatos na franquia. Isso é pois, ao contrário de shooters convencionais, aqui temos uma estrutura mais próxima ao que é visto em RPGs, com status e danos que escalam a partir de seus equipamentos. Na verdade é possível notar isso já no primeiro confronto, quando, ao atirar na cabeça de um inimigo – provavelmente ele não morrerá de cara. Ao invés, um belo dano crítico será representado por números.

Companheiros portáteis

Em The Division 2, ao adentrar logo no início um dos últimos refúgios ainda em pé, a Casa Branca, podemos escolher entre duas habilidades que trarão dinâmicas bem diferentes à jogatina, e funcionam como um pontapé inicial para que você entenda o quão versátil a jogabilidade pode ser. Cada jogador tem disponível dois slots a serem preenchidos com as seguintes potenciais skills.

  • Torreta:  As torretas podem ser instaladas ao seu lado com um aperto rápido do botão de habilidade ou arremessadas a curta distância ao pressionar o botão por mais tempo.
  • Drones:  O Drone de Assalto é um dispositivo não tripulado que pode ser controlado remotamente e enviado para transformar a vida de inimigos distraídos num verdadeiro inferno.
  • Escudos: Defenda-se e tenta uma abordagem mais direta aos inimigos.
  • Minas guiadas:  Ao ser ativada, esta mina localiza o alvo mais próximo ao alcance e rola pelo chão na direção dele, detonando ao chegar perto o suficiente.
  • Colmeias:  Embora primeiramente seja uma ferramenta defensiva, a versão de ataque se chama Colmeia de Vespas, capaz de lançar pequenos drones que causam efeitos devastadores aos alvos dentro de uma área.
  • Lançadores químicos:   O Lançador Químico dispara várias substâncias químicas que se espalham com o impacto. Os efeitos podem variar, de vapores explosivos e ácidos corrosivos a nanorrobôs reparadores; escolha com sabedoria e neutralize qualquer situação.

Cada uma destas oferece uma estratégia de execução e abordagens diferentes para lidar com inimigos. Na prática, isso traz sobrevida ao play-style em vários cenários e inimigos que enfrentaremos. O melhor, ao evoluir seu personagem e adquirir mais níveis, somos recompensados com pontos que nos permitem abrir mais gadgets e assim testar novos estilos de jogo.

Exploração

 

Em Washington, uma das primeiras coisas as quais devemos mencionar é o quão belo estão os cenários. Não bastasse a recriação escala 1:1 de todos os ambientes do estado, todo sentimento de devastação é presente e muito vivo por sinal. Efeitos de reflexo, iluminação, textura e a interação do personagem com o ambiente traduzem um polimento tão vigoroso que assusta. Dividido por cerca de 9 setores que representam diferentes dificuldades, cada ambiente transporta um sentimento de que estamos vivendo algo novo – e isso pode ser considerado um outro feito, uma vez que predominantemente estamos tratando aqui de uma cidade urbana e que facilmente poderia cair em um grande emaranhado de similaridades, e futuramente um grande sentimento de repetição.

E se o papo é exploração, um grande parabéns precisa ser dado à Massive Entertainment. Isso porque, dentre as quase 60 horas jogadas para a realização desta análise, talvez não existe um sentimento melhor para definir o quão bem feito foi concebido este aspecto do que “viciante”.  Se antes comentamos sobre como este level-design poderia cair em uma armadilha facilmente, é impressionante notar como tal possível empecilho foi resolvido.

“Cuidado com a rua”

Acima, temos o mapa do jogo – e como podemos notar, cada área é repleta de objetivos principais, secundários e “intermediários” a serem completados. Ande por aí e esbarre em facções tentando executar civis a sangue frio no meio da rua, ou até mesmo pise em falso e estará em um território dominado pelos Exilados. Todas as engrenagens que fazem deste mundo rico estão alí, e a experiência de se adentrar neste ambiente é extremamente satisfatória. Seja onde for, você sempre será recompensando de alguma forma – seja por skins de visuais para seu personagem, armas, equipamentos, caixas com pontos que podem ser usados para melhorar seu personagem, modificações de armas e a lista só cresce.

Há um extenso trabalho visto aqui para entreter o jogador a todo instante, e olha que nós nem tocamos ainda nas missões principais ou secundárias.

Criação de equipamentos

Se no primeiro The Division muitas reclamações partiam do pressuposto de que o sistema de criação era um tanto quanto raso, a história é outra aqui.

Agora temos um sistema mais flexível e adaptativo às várias circunstâncias que nos deparamos. Por exemplo: se você conseguiu um blueprint de um rifle semi-automático e não gostaria de trocá-lo ao longo da aventura, é possível realizar upgrades de forma que ele se escale ao nível do seu personagem. Desta forma, você pode fabricar uma arma que evolua conforme seu progresso.

É possível fabricar modificações para armas, equipamentos diversos, e tudo serve como uma forma alternativa de progressão enquanto você está entre os níveis 1 à 30. Para fabricar um item será necessário créditos da Divisão, materiais que podem ser encontrados em mochilas, lixos e ao matar inimigos e mais importante: a cópia heliográfica do item.

Caso falte algum item para que você fabrique seus equipamentos, o jogo apontará direções para que você encontre o que falta. Algo simples, porém excepcionalmente importante e intuitivo.

modificações a todo vapor

Outro destaque indispensável está na forma como interagimos com as armas. The Division 2 pega pesado no que diz respeito a customização e variedade, e como resultado disso, você poderá alterar propriedades da sua arma com um toque de botões – criando combinações criativas, e até bizarras.

Encontrou um rifle de precisão com uma taxa de dano altíssima? Que tal tirar o escopo dela e torná-la um rifle comum excessivamente potente, mas com uma cadência de tiros menor? Ou quem sabe colocar este mesmo escopo para longas distâncias em um espingarda? Vale lembrar que as armas adotam várias camadas para modificações, porém nem tudo são rosas: para toda modificação, há um atributo positivo e negativo, portanto esteja atento às combinações para conseguir extrair o melhor resultado compatível com sua forma de jogar.

Não pense que o grau de modificação acaba aí: como citamos no início desta análise, o game é definitivamente um RPG – e todos os equipamentos de graus maiores acompanham slots a serem preenchidos com modificações que adicionam mais defesas, pontos de vida, acertos críticos dentre outros. No final das contas a combinação transporta um avançado leque de personalização para builds distintas.

Progressão

Se você é daqueles que se vê emplacado pela evolução em todos os sentidos do seu personagem – se prepare! The Division apresenta um repertório de progressão gigantesco que lhe fará constantemente se sentir mais poderoso em algum aspecto especifico. Seja em equipamentos novos que, como já mencionamos acima podem ser modificados, à habilidades passivas que alteram e muito a jogabilidade.

Após coletar todas as Tecnologias Shade, coletáveis presentes no mapa que são utilizados para aprimorar habilidades passivas e desbloquear novas vertentes dos Perks é que a brincadeira começa.

 

Não fosse só por isso, os perks podem ser customizados e apresentam uma variedade de instâncias que, além de proporcionar ainda mais flexibilidade nos embates trazem um constante sentimento de aprimoramento. A cereja no bolo vem pelo fato de que é possível alterar as tais instâncias em meio ao gameplay, tornando a experiência ainda mais recompensadora.

Com equipamentos de diversos níveis de raridade, os jogadores começam com os básicos (brancos) até os mais avançados que apresentam uma coloração roxa e laranja, além dos exóticos vermelhos.

Um ponto a ser destacado aqui é como todo level-design se entrelaça com a progressão criando sempre um motivo para que você realize os vários objetivos presentes para receber uma recompensa melhor.

Especializado

Tendo coletado e aprimorado ao máximo os atributos passivos, o que deve acontecer no nível máximo – eis que o jogo nos surpreende novamente com um endgame ainda mais satisfatório do que imaginávamos: as especializações.

Especializações são como classes avançadas que funcionam da seguinte forma: o jogador tem a seu dispor 3 rotas – O Demolition, focado em combate de curta distância, o Sharpshooter que nada mais é que um atirador de elite munido de um rifle de precisão poderosíssimo, e o Survivalist, equipado com sua besta explosiva.

Cada uma das classes acompanha especificidades e uma nova árvore de habilidades passivas extremamente fortes e divertidas. Vale lembrar que cada evolução traz uma arma por padrão que se diferencia das demais e oferta uma nova camada aos combates, já a partir deste momento temos um recurso exageradamente poderoso a ser utilizado.

Casas quebradas

Por fim, não é só nosso personagem que está constantemente mudando seja visualmente, seja em suas habilidades evoluíveis. Ao longo da jornada, nos deparamos com vários pontos avançados e abrigos

que aqui nos trazem o desafio de reconstruí-los, assim temos de trazer todos os recursos necessários para que aquelas pessoas que sobrevivem nestes locais. O mais interessante em tudo isso é que, ao longo de todas as missões apresentadas para a reconstrução podemos ver visualmente estas melhorias serem praticadas.

Doando equipamentos, realizando missões estratégicas e limpando ambientes próximos fazem com que tais áreas fiquem mais fortes e mais vastas dando mais possibilidades aos jogadores, e aos que ali residem. O mesmo acontece na Casa Branca, que muda constantemente a cada investida do jogador a favor do local.

Inimigos

Não poderíamos deixar de comentar uma das nossas maiores admirações: o comportamento dos adversários. Ao contrário de seu antecessor e na verdade, da grande maioria de títulos – em Division 2 nos deparamos com uma das IAs mais bem realizadas do mundo dos games. Estamos falando de adversários que constantemente mudam suas estratégias, tentando te flanquear, destruir sua posição e sempre demandando decisões difíceis por parte do jogador.

Eles falarão frases contextuais às ações desempenhadas por você e ainda debocharão de seu desempenho caso você não faça as coisas certas. Com 4 facções presentes na trama e uma variedade incrível de cada individuo, há um latente sentimento de que nunca estamos lutando contra “esponjas” como acontecia anteriormente.

Seja por inimigos que correrão até sua posição com armas brancas à lançadores de granadas, inimigos trajados por armaduras tecnológicas, e até adversários especiais que utilizam gadgets e até se curam!

Dark Zone

Uma das principais razões pelo qual fez The Division ser o sucesso que é hoje, é graças à temida Zona Negra. As Dark Zones voltam com força aqui – e agora não só uma, mas três delas! A ideia por trás destes segmentos é: você entrará em uma zona contaminada recheada de inimigos, e encontrará loots preciosos pelo caminho. O problema: estes equipamentos estão contaminados, portanto para descontaminá-los será necessário pedir uma extração por helicóptero.

Em todo trajeto o PvP é ligado, portanto qualquer agente pode potencialmente te ajudar, ou mudar de lado virando “Rogue” como é chamado aqui, e te matar – roubando todo seu loot coletado até o momento.

Na primeira Dark Zone liberada no nível 10 temos uma palinha do que é este sistema, aqui tudo é mais telegrafado e ao ter novos agentes em campo ou Rogues, temos o alerta na tela nos dando uma espécie de tutorial.

Vale lembrar que duas das Zonas Negras adotam este formato mais “casual” e irão normalizar o dano de todos os jogadores balanceando a partida. Porém… não se engane, The Division não é só para casuais.

A cada semana, uma nova zona será intitulada “Ocupada”, e isso fará com que esta adote novas regras: não há mais padronização de gear score, portanto jogadores mais assíduos poderão usar todo seu poder armado para destruir seus inimigos e pegarem seus loots. Não há mais tutoriais nem sinais de cada mudança de ritmo na área.

Como recompensa, equipamentos super raros podem ser encontrados e o sentimento ao sair de uma destas zonas com estes é inigualável.

TRILHA SONORA

Com batidas eletrônicas, segmentos de rock e temas melódicos, a trilha sonora concebida por Ola Strandh (que por sinal também trabalhou no primeiro titulo) é surpreendentemente cativante e transporta o senso emergencial necessário em cada missão ou localidade no game. Seja nas cenas de extrema ação onde somos bombardeados por hordas e hordas de inimigos à segmentos pacíficos reforçando o senso de dever cumprido.

Toda trilha pode ser conferida abaixo:

VALOR DE REPETIÇÃO E END-GAME

The Division 2 é um looter shoter, e isso se traduz em uma busca implacável por progressão de equipamentos e uma evolução constante no personagem como um todo. Sendo assim, é de suma importante reforçar como seu replay-value é aproveitado aqui – mas de formas mais criativas que o convencional.

Spoilers: ao chegar no nível máximo e finalizar a primeira campanha do título, um novo evento logo é desencadeado e todo território antes controlado pelas três facções inimigas agora é desbancado pelos soldados de elite assustadoramente capacitados e recheados de equipamentos da organização Pata Negra.

Agora, todos os pontos de controle são reivindicados e uma novo sistema do título é ativado: a guerra de facções. Neste modo, você não poderá mais ter todos os territórios do jogo verdinhos e conquistados. Por quê? Agora tantos os Exilados, quanto os Herdeiros e Hienas e por fim os Pata-Negra irão constantemente disputar áreas fazendo com que seu mapa sempre esteja diferente a cada vez que você voltar ao game.

Não somente isso, agora missões podem ser repetidas com graus de dificuldade maiores e as fortalezas, serão agora ocupadas pela nova facção. Um novo arco de missões principais é aberta e acredite: aqui você precisará de muita, mas muita estratégia, coordenação e equipamentos para se dar bem.

Aliás, é importante ressaltar que após o nível máximo (30, no momento) o jogo se baseia em uma espécie de gear score, onde seu nível será baseado nos equipamentos que está trajado.

VEREDITO

Pontos positivos: jogabilidade fascinante, inimigos inteligentes, progressão de alta qualidade, level-design primoroso, conteúdo de sobra.

Pontos negativos: glitchs frequentes no PS4 como problemas de renderização, falhas na conectividade no modo online, história fraca. 

The Division 2 é grande, exuberante e absolutamente polido. Com uma progressão demorada mas abundantemente recompensadora, não há como negar: este é provavelmente o melhor Looter Shooter já feito.

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