Análise The Last of Us Part II | Encerra brilhantemente não só uma história, mas toda uma geração de consoles e ‘gamers’

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Categoria: Review

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“Tomar decisões costumava ser fácil. Que horas acordar, o que vestir, para onde ir. Agora é diferente. É possível diferenciar um amigo de um inimigo? Você é capaz de matar?

É capaz de agir como eles? Se uma pessoa importante para você fosse infectada, você faria o que é certo? Você arriscaria sua vida por mim do jeito que eu arriscaria por você?
Você seria…o último de nós? ”

 

A pandemia que redefiniu uma geração

Durante o século XX, as nações mundiais adotaram, após a Guerra Fria, o sistema capitalista baseado no lucro e no acúmulo de riquezas que promoveu o avanço da indústria e do consumo de bens materiais, mas como consequência gerou profundas desigualdades criando um cenário de dificuldades para a maioria das pessoas. Os anos desse sistema engessaram as relações humanas e o dinheiro e economia se tornaram o objetivo principal da existência e as necessidades como fome, moradia e qualidade de vida eram artigos de luxo em uma sociedade injusta e que não valorizava a vida.

Na lógica dos números e da estatística, tomar decisões sobre a vida de milhões de pessoas era uma tarefa que podia ser feita a partir de uma sala de escritório de alto padrão assinando documentos que mudariam drasticamente as condições de sobrevivência. No entanto, o que os donos de capitais não esperavam era em que no ano de 2013 uma praga colocaria em cheque esse estilo de vida vantajoso sem uma oportunidade de recuperação.

Uma epidemia tem início e se alastra pelos Estados Unidos infectando uma boa parcela da população através de um fungo que ataca as vias respiratórias transformando as pessoas em aberrações humanas sem consciência e que vagam pelos espaços contaminando outras vítimas e perpetuando a infecção. A Organização Mundial da Saúde busca uma solução medicamentosa enquanto eleva o caso para uma pandemia, mas falha em encontrar uma vacina ou medicação para tratar pacientes.

Com a contaminação se espalhando pelo mundo, os governos de diversos países declaram quarentena como forma de conter o avanço, porém os esforços foram em vão e a população começou a se organizar em grupos para se manterem vivos. O mundo capitalista caia e o poder de compra e negociação são repensados e se tornam mais agressivos. Além dos infectados, o próprio ser humano, são e consciente, também é um inimigo em uma arena onde somente os mais preparados e frios permanecem de pé e armas, munição e itens de cura são o desejo da maioria que luta pela manutenção de suas próprias comunidades.

O cenário pandêmico perdura e, após vinte anos, o mundo se adapta a uma nova realidade em que a infecção e o fungo continuam soltos e sem solução para o contágio. Milícias foram formadas, guerras locais declaradas e o planeta não é mais um lugar sadio e com prosperidade cabendo a quem ainda está vivo seguir somente pelo instinto de sobrevivência.

Joel Miller está entre esses sobreviventes após ter sua vida alterada com a morte brutal de sua filha Sarah no início da pandemia fazendo com que suas concepções e valores sobre existência tomassem um outro rumo e fossem de encontro com uma nova forma de vida encontrada nos campos de quarentena. Os duros anos de sobrevivência em alojamentos improvisados e distantes de padrões de vida urbano de antes moldaram Joel para o novo mundo doente onde sentimentos e comportamentos considerados dentro de uma prática ética já não fazem sentido. Depois de duas décadas, Miller se torna um homem que sobrevive liderando um mercado negro de negociações em trocas de suprimentos e parcerias vivendo um dia de cada vez já que fazer planos e criar expectativas para o futuro não é mais uma consciência adequada a um cenário de luta e pandemia.

A competição entre os grupos de sobrevivência são a constante desse novo cenário fazendo da confiança e da lealdade a moeda de troca mais eficiente para aqueles que veem na vida seu bem mais preciso. Mais perigosos que os infectados, os saqueadores e seus grupos bem articulados são a maior ameaça na conclusão dos trabalhos fazendo com que as pareceria necessitam de elos duradouros para se efetivarem. Um dos elos criados por Joel foi Tess, sua companheira de negociações, que repassava trabalhos específicos garantindo como armas e itens de cura para as comunidades.

Em meio a uma vida cautelosa e de muita atenção, Joel aceita mais um trabalho vindo de Tess, mas não imaginava que suas concepções a respeito da vida humana poderiam ser repensadas quando descobre que a encomenda se tratava de uma jovem de 14 anos chamada Ellie que deveria ser deixada em um ponto de encontro. Ellie é uma típica adolescente rebelde que nasceu nos campos de quarentena e não conheceu outro mundo que não aquele tomado pela infecção e cercado de perigos. Decidia e com forte opinião sobre os assuntos que a rodeiam, a jovem é imune ao fungo que causa a doença e precisa ser levada ao grupo dos Vaga lumes que planeja desenvolver uma vacina a partir se seus anticorpos na tentativa de se criar uma cura definitiva.

A jornada dos sobreviventes resume-se em emboscadas, desafios e perigos que vem de todos os lados sejam eles infectados ou seres humanos. Entretanto, o maior perigo enfrentado por Joel é saber lidar com seus sentimentos conforme constrói uma forte relação com Ellie que faz o frio negociante repensar seu papel como pai e protetor, e apesar de sentir carinho pela menina, Joel não expõe publicamente seus sentimentos e nem questiona a possibilidade de Ellie estar tomando o lugar e Sarah como uma “nova” filha já que Sarah faz parte de uma outra realidade e de uma outra vida de Joel em que ele não se reconhece mais.

Ao atravessar quase todo os Estado Unidos, Joel assume o papel de tutor da adolescente ensinado a ela técnicas de sobrevivência sem esquecer de mostrar como ainda ser humana e não perder o resto de dignidade que ainda existe. A relação entre os dois se fortalece com o tempo aumentando o grau de companheirismo entre sendo ambos postos à prova quando chegam ao centro de pesquisa e descobrem que as intenções dos vaga lumes não eram nobres e precisam se reorganizar mais uma vez para ser manterem vivos. Após Ellie ser infectada, a equipe dos vaga lumes afirma que a garota precisaria ser morta para que fosse possível extrair os antígenos que iriam compor a suposta vacina. Travando uma intensa batalha para escaparem daqueles que prometiam a esperança e um novo mundo, Joel e Ellie continuam seus caminhos em busca da sobrevivência. O mundo problemático se estende pela frente e um desfecho para uma situação caótica continua sendo apenas uma vaga expectativa que não se concretiza.

Expertise elevada ao quadrado

Após o desenvolvimento de Uncharted 3, a Naughty Dog ganhou um alto grau de expertise para desenvolver jogos com mecânicas e gameplay apurados que elevaram o nível dos jogos de aventura com forte apelo narrativo. O primeiro The Last of Us iniciou não só um novo patamar em termos de qualidade como também entregou uma franquia inédita que rapidamente conquistou o coração dos jogadores por trazer personagens marcantes e um enredo apocalíptico renovado.

Dirigido por Bruce Straley e Neil Druckmann (diretor criativo), o game conseguiu trazer gráficos e mecânicas polidas que permitiram que outros elementos técnicos ganhassem destaque e inspirasse outros games que foram lançados posteriormente.

Desde o lançamento, uma sequência era ansiosamente esperada pelo público e pela crítica não somente como uma continuação da história, mas como uma nova franquia que surgia e pudesse ganhar força e se consolidar como um título digno de um grande sucesso.

Sete anos depois, a Naughty Dog encerra a produção do segundo jogo alimentando expectativas que foram concretizadas a partir de uma produção consequente e coesa que tem por objetivo promover uma experiência única com um gameplay mais arrojado e um enredo ainda mais interessante que o original. Intitulado de The Last of Us Part II, esse subtítulo faz jus a todas as propriedades técnicas e narrativas sendo duas vezes mais interessante e envolvente que o anterior em todos os quesitos.

Trazendo a mesma equipe consagrada, a empresa de Uncharterd reuniu para os jogos os mesmos artistas gráficos e programadores como forma de aproveitar toda a estrutura já desenvolvida para ganhar tempo na preparação do jogo que levou anos de produção intensa. Entretanto, a direção sofre alterações e fica a cargo de Anthony Newman e Kurt Margenau que decidem propor novos caminhos para os destinos de Joel e Ellie através de um roteiro que muda as estruturas construídas no título original.

Neil Druckmann retorna como roteirista na companhia de Halley Gross que ficou conhecida por escrever episódios para o seriado WestWorld cuja responsabilidade foi deixar que a famosa história de sobrevivência dos personagens recebesse um grau maior de intensidade. Para atingir esse feito, algumas mudanças nos caminhos e desenrolar da narrativa foram pontualmente pensadas para que o jogo tivesse um novo rumo.

The Last of Us part II inicia momentos depois dos acontecimentos no hospital dos vaga lumes mostrando Joel e Ellie retomando suas vidas em acampamentos de quarentena sem revelar para ninguém que a jovem possui imunidade contra o fungo patogênico e nem levantando questões sobre uma possível cura. Ao retomar a história deixada em aberto no primeiro jogo, o novo título da Naughty Dog revela que mais que uma interação entre jogador e personagens, o conceito principal é oferecer uma experiência cinematográfica alinhada aos aspectos tradicionais de uma game eletrônico.

Após quatro anos organizados em grupos de sobrevivência, a vida de quarentena e preservação da saúde continua intensa e perigosa como em 2013 no estouro da pandemia e, para situar o jogador em todos acontecimentos, o começo da história investe em cutscenes vigorosas que contam como os personagens estão e como fizeram para levar a rotina durantes os últimos tempos. É no aspecto narrativo, junto com uma melhoria técnica que vai de texturas gráficas até otimização sonora, que The Last of Us part II mostra seu potencial e arquitetura brilhantes tecendo toda a produção do jogo de maneira coesa fazendo com que todos os aspectos funcionem em função de mais qualidade.

Um mundo que se vê

Ao começar a jogar os primeiros minutos, a melhoria de imagem gráfica é perceptível de imediato. Apesar de herdar toda a estrutura ambiental do jogo anterior, é notável que os programadores e artistas digitais conseguiram extrair o máximo do processador do Playstation 4 fazendo-o operar em capacidade máxima como é típico de jogos de final de geração. O aproveitamento nesse quesito engloba todos os fatores que dizem respeito à imagem que investe nas formas e design de ambientes naturais e de espaços confinados, em uma paleta de cores expressiva, texturas foto realistas a até mais precisão e refinamento na captura do MoCap (Motion Capture) que mostra movimentos mais suaves e humanos. Todas essas melhorias não são somente uma forma de mostrar evolução das técnicas durante anos os de produção, mas uma forma de aproveitar esses recursos para promover mais verossimilhança e adequação à proposta.

As localidades presentes durante todo o jogo apresentam um mundo devastado por uma doença sem cura e que se encontra há muitos sem um rumo e sem uma perspectiva e se alternam entre casas abandonadas, acampamentos e ruas patrulhadas bem como locais que antes eram importantes como estação de televisão, hospitais, hotéis e toda uma série de ambientes que um dia foram parte de um mundo que não existe mais.

Nestes cenários, a riqueza de detalhes acontece em vários sentidos já que o planejamento do level design é completo e inclui espaços que estão disponíveis para checagem mesmo que não haja nada a ser explorado, porém existem para transmitir a sensação de amplitude e de abandono. Tantos os espaços abertos como fechados contam com todos os detalhes de uma localidade real que incluem os móveis, a arquitetura, os arranjos que antes decoravam o lugar e estão sempre desarrumados, saqueados e vazios de pessoas amistosas. A variedade dos ambientes é ampla e mostra um mundo onde a natureza domina sobre os seres humanos pela sua força e pelos microrganismos que se manifestam em forma de infecção baixando a guarda daqueles que antes eram os donos do mundo.

O principal destaque gráfico são os efeitos de luz e sombra que foram aprimorados permitindo um grau de realismo equiparável à iluminação natural principalmente nos ambientes de campos abertos onde é possível vislumbrra o horizonte em toda a sua grandeza e infinidade. A luz solar reflete naturalmente atravessando janelas, incidindo sobre plantas e sobre objetos, passando por frestas e brilhando sobre a água gerando reflexos do entorno completando a experiência.

Os aspectos técnicos de The Last of Us part II se manifestam a partir dos gráficos e permitem que a jogabilidade seja aproveitada ao máximo e de forma mais efetiva que o primeiro game. As repostas dos controles estão ligeiramente mais rápidas e mais precisas sendo possível mais organização na hora de atirar, se esconder, pegar itens planejar estratégias de ataque contra inimigos.

Entretanto, a jogabilidade não se resume apenas ao controle e encontra-se “dissolvida “na maneira como o jogo avança e constrói progressão como é o caso da personagem Abby,e dos flashbacks de Joel e Ellie que se passa alguns anos antes e contam com comandos específicos de ações que respondem com rapidez aos toques do botões.
Um dos pontos de mais destaque na jogabilidade é o fato de Ellie ser a protagonista assumindo o comando das ações que antes pertenciam a Joel em seu papel paternal. Mais madura, a Ellie de dezoito anos deixou para trás a atitude respondona e grosseira e foi amadurecida pela dureza da vida em alojamentos dando importância às questões de existência e sobrevivência que Joel ensinou insistentemente.

Controlar Ellie durante toda a campanha reflete como a jovem ganhou confiança e habilidade ao lutar ao lado de seu companheiro e, apesar de manter a mesma essência de comandos de antes, a programação consegue transmitir a diferença entre personagens. Joel era mais pesado e lento, porém mais forte enquanto Ellie é mais ágil e rápida sobrevivendo melhor a situações de perigo e emergência. As armas que são a forma de ataque mais poderosa são variadas e possuem respostas instantâneas para mirar, atirar e recarregar assim como o uso de armas brancas é eficiente e combate bem os inimigos desde que não seja uma emboscada. Em termos de combate, a fluidez também é melhorada deixando o ataque aos infectados mais fácil como no caso dos estaladores que antes necessitavam de ataques especiais com facas e representam um perigo quase intransponível. Desta vez, infectados, estaladores, trôpegos e espreitadores possuem um nível de combate interessante, mas não são uma sentença de morte como no game anterior, o que representa um equilíbrio mais perceptível para a jogabilidade.

Enfrentar infectados e inimigos humanos representam jogabilidades distintas que exigem do jogador posturas e estratégias diferentes. O embate com homes e mulheres não infectados requer atenção e precisão nos movimentos para não ser visto e conseguir realizar os ataques furtivos. Em algumas ocasiões, o combate corpo a corpo se faz necessário e tomar cobertura, atirar no momento certo e fugir de cães farejadores vai exigir destreza com os controles e algumas tentativas para escapar do perigo.

Com os infectados, a tensão e o elementos terror se imprime na batalha fazendo com que o silêncio e a paciência para se mover na hora certa sejam os elementos centrais que garantirão a vitória. A furtividade é ainda mais necessária para não causar nenhum tipo de barulho que atraem mais criaturas sendo quase impossível se salvar de uma horda que ataca em fúria. Ao passar pelas primeiras hordas de inimigos e estar mais habituado aos controles, o nível de dificuldade das batalhas se elevam consideravelmente sendo preciso estratégias mais eficientes para lutar ou mesmo traçar uma rota de fuga adequada.

Fora de combate, a exploração por itens, colecionáveis e armamento continua sendo fundamental para o avanço no jogo uma vez que é através dessa busca que é possível encontrar as novas armas, acessórios bem como os insumos de cura e engrenagens para upgrade das habilidades fazendo com que a personagem se mantenha viva principalmente nas dificuldades mais altas em que os itens são mais escassos.

O jogo divide a jogabilidade em partes como momentos de luta e fuga, exploração e puzzles que vão pedir do jogador um senso de direção afiado para ir e voltar por grandes espaços realizando tarefas especificas.

Ao seguir para Seattle junto com Dinah, a protagonista e sua companheira precisam atravessar uma área urbana composta de um fórum e um hotel em busca de combustível para um gerador que liga um portão eletrônico. Considerando o mapa do lugar e as ações que devem ser feitas para prosseguir com o jogo, é possível afirmar que os puzzles de The Last of Us part II são simples e prezam pela exploração de diferentes ambientes e pequenos desafios como empurrar latões, pendurar em cordas, acessar áreas restritas etc. que objetivam mais a interação com a personagem do que um alto nível de dificuldade.

Diversificando ainda mais a jogabilidade, outro aspecto que se destaca são os flashbacks de Joel e Ellie que tem por objetivo contar parte da história dos quatro anos que se passaram até o momento presente retomando uma das características mais bonitas do jogo que é a relação entre esses personagens. Nestes episódios, a narrativa é dedicada a contar eventos em particular como o aniversário de Ellie em que Joel leva a garota para um museu de dinossauros abandonado e, durante a visita, a proximidade entre um pai que perdeu a filha e secretamente repassa esse papel a Ellie e uma adolescente que não conheceu uma vida normal são explorados com sentimentalismo e delicadeza em um contexto próprio que resulta em uma jogabilidade própria.

Os comandos pensados para o flashback são os mesmos da campanha principal, mas que devem ser usadas pontualmente como acessar uma informação ou abater um inimigo junto com Joel. A leve alteração no uso dos comandos é um fator de jogabilidade interessante que preza pelo enredo servindo como uma espécie de intermissão para que seja possível ao jogador se integrar do status do relacionamento tácito entre duas pessoas que se conheceram em condições atípicas.

Ao som do menor ruído

Completando o pacote técnico pensado pela Naughty Dog, o fator sonoro do jogo é uma experiência à parte digna de grandes filmes e faz com que a imersão seja mais vívida principalmente se aproveitada por algum sistema de som mais robusto como home theater ou os fones de ouvido para jogos.

Pode-se dizer que a trilha sonora de The Last of Us part II são os efeitos de som que estão presentes em todo o jogo como os ruídos dos rios, dos ventos, dos tiros além das pavorosas emissões vocais dos infectados que geram tensão e desespero. Nesta perspectiva, o jogo não tem uma música tema que vai ficar na mente de quem joga, porém, os jogadores se sentirão parte da cena ao ouvir uma riqueza de detalhes sonoros que vem de todos os lados.

Toda a composição sonora refinada do game poderá ser menos aproveitada se os alto falantes de uma televisão forem utilizados como fonte de som principal. Isso acontece porque a maioria dos televisores do mercado não possuem todos os canais de áudio que permitem as gravações serem ouvidas em totalidade. A maioria dos modelos populares ainda contam com dois canais de áudio estéreo que não são suficientes para uma experiência sonora imersiva entregando uma performance apenas satisfatória. A utilização de um home theater com configuração mínima de 5.1 DTS pode oferecer um áudio mais refinado, mas ainda sem precisão completa uma vez que a vibração das caixas de som para o ar faz com que partículas sonoras sem percam dependendo da acústica do ambiente e da disposição do aparelho.

A verdadeira experiência sonora acontece com a utilização de fones de ouvido de alta performance que são capazes de distribuir os canais de áudio com mais refinamento reproduzindo um som efetivo e que revele o trabalho dos engenheiros em montar a sonoplastia, a captura de voz e a música. Para esta análise foi utilizado o headset sem fio edição especial de The Last of Us 2 que é um dispositivo sem fio projetado para o Playstation 4 que otimiza o áudio de jogos que tenham um projeto sonoro apurado.

 

O desempenho do fone da Sony é superior a maioria dos fones populares oferecidos pelas grandes marcas, pois redistribui o som em sete canais que variam entre a escala aguda, a escala grave além das dimensões sonoras que são bastante exploradas em games. O som Surround permite ao jogador escutar as mais variadas nuances que acontecem durante a partida e em The Last of Us part II essa funcionalidade permite um aproveitamento melhor do jogo já que muitos elementos acontecem na tela ao mesmo tempo.

O headset série ouro não possui um volume alto, mas compensa com a exatidão e alto desempenho em reproduzir sons ambientes e os momentos de impacto com competência. No caso do jogo da Naughty Dog, o destaque está nos ruídos que compõem as localidades onde é possível ouvir o vento, as gotas de chuva, o barulho dos móveis, o do ranger do piso entre outros aspectos com o máximo de detalhes. Os tiros deferidos por Ellie ou por inimigos podem ser ouvidos como se o jogador estivesse em combate, pois é possível escutar a velocidade que a bala é disparada passando pela personagem ou mesmo a atingindo. No caso das flechas, o som da madeira cortando o ar é claramente perceptível e passa a sensação de ter sido acertado pelo projétil.

As vozes se dissipam pelo ambiente e mudam de volume conforme o personagem se afasta podendo ficar quase inaudível se emitido de muito longe onde Ellie se encontra. Entretanto, é no combate que essa funcionalidade se mostra mais relevante, pois ao fazerem a patrulha, os oponentes humanos conversam entre si, assobiam para fazer comunicação e gerar localização, dão ordens aos cães farejadores e fazem uma busca acirrada pela personagem. Neste caso, é possível ouvir para onde as vozes estão se distanciando ou se estão se aproximando do jogador oferecendo tempo para se esconder ou mesmo atacar. Quando um inimigo começa a perceber sua presença, o jogo emite um ruído tenso que avisa que a protagonista pode ser descoberta e essa chamada sonora ativa o senso de proteção fazendo com que o jogado tome uma ação.

O som ambiente é o mais realístico possível e possui uma diferenciação entre os espaços fechados e os espaços abertos. Ao estar dentro de salões prediais, cômodos residenciais ou qualquer lugar interno é possível sentir o silêncio do ambiente que é protegido pelas paredes de concreto fazendo com que os ecos sejam a realidade que paira no ar. Nestes espaços, um tiro, um item derrubado, uma garrafa quebrada ou uma janela de vidro estilhaçada pode soar como um estrondo e atrair oponentes que irão caçar Ellie sem pena. Em um espaço fechado ainda vale a regra de andar abaixado para produzir menos barulho e ter mais sucesso em ataques furtivos percebendo no silêncio uma entidade quase palpável graças a uma engenharia de som consequente maximizada por fone de alta qualidade. Em ambientes abertos, a sensação de respiro e ar fresco acontecem por conta dos sons que são típicos desse tipo espaço sendo possível ouvir a quebra do silêncio pelo ar atmosférico, o canto dos pássaros, saqueadores que invadem casas uma série de objetos que ressoa nos ambientes transmitindo a clareza de se estar em espaços dinâmicos e expostos.

Com um nível elevado de captura e execução sonora, The Last of Us part II pode ser considerado um modelo de excelência em reprodução de áudio por entregar um desempenho dignos de cinema e televisão para contar uma história que é exclusiva dos vídeo games. O trabalho de Gustavo Santaolalla que desenvolveu o primeiro game, retorna com mais qualidade e mais genuíno que antes entregando um alto nível de detalhamento que é fundamental para a imersão e aproveitamento do jogo como um todo.

Enredo e linearidade

O enredo de The Last of Us part II tem por objetivo principal dar sequência ao primeiro título narrando a história de como Ellie, Joel e outros personagens importantes sobrevivem a uma pandemia. Para isso, investe em uma trama que avança lentamente e mostra ao jogador os fatos decisivos através de fases, puzzles e combate com os inimigos que vão fazendo com que narrativa tenha progressão.

Após o fatídico destino de Joel, Ellie planeja seguir até Seattle para encontrar Tommy bem como algumas repostas sobre os acontecimentos recentes junto de Dinah que se torna sua companheira no amor. O que parecia uma busca trivial por uma pessoa acaba por revelar uma jornada intrigante em que a busca por respostas sobre eventos específicos acaba por criar mais perguntas que exigem novas abordagens e diálogo com pessoas importantes que possam ter tais respostas. Ao avançar em sua jornada, Ellie perde as companhias e se torna solitária percebendo que sua existência no mundo se traduz em autoconhecimento e pelo poder de sempre seguir em frente.

Essa característica marcante do jogo prioriza os eventos para contar uma história sobre adaptação e sobrevivência em um mundo sem muitas perspectivas de futuro. Para construir a coesão narrativa, o jogo traz uma linearidade de gameplay que não oferece diversificação quanto aos combates ou exploração e, dessa forma, avançar pelas rotas estipuladas para encontrar repostas pode parecer repetitivo. Toda nova área entrega um grau de exploração, enfretamento de inimigos humanos, uma área de infectados, alguns puzzles e cutscenes sendo que cada fase busca priorizar um desse eventos, mas sempre mantendo essa estrutura principal. Apesar de contar com cenários variados, a repetição desse sistema de jogo faz com que o game perca um pouco do brilho depois de algumas horas e precise ser deixado de lado pelo menos por um curto espaço de tempo para que o conceito original, que preza pela história, seja reativado na mente de quem joga.

Tal aspecto do gameplay não chega a ser um ponto negativo ou que afete as partidas, mas pode soar como uma certa falta de inovação em variar as formas de se jogar e de se contar uma história. A inserção de outros personagens jogáveis, tal qual acontece com Abby no início do game, poderia ter sido uma solução cabível para a estrutura desse tipo de jogo e que abriria possibilidades para explorar pontos de vistas e encadeamento de eventos do enredo. Excluindo esse fator, The Last of Us part II retrata a jornada de Ellie pela busca de sua identidade e lugar no mundo frente a uma situação de perigo e incertezas em que se manter vivo é a prioridade, mas se descobrir nas relações com outras pessoas é a força humana que afasta a escuridão dos tempos difíceis e dos mal-intencionados.

Veredito

The Last of Us Part II é o título que encerra brilhantemente não só uma história, mas toda uma geração de consoles e gamers que viram no jogo o nascimento de uma franquia nova e poderosa dedicada exclusivamente para esse público.
Priorizando o enredo como sua característica mais forte e evidente, o jogo da Naughty Dog entrega uma experiência emocionante alinhada a um padrão técnico que moldará os jogos da próxima geração em termos de narrativa e gameplay. Retornar ao universo apocalíptico junto a Ellie como protagonista é uma experiência gratificante e recompensadora rumo a descoberta de sua própria identidade.

Nota: 9,5

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