Mortal Kombat é uma das séries mais famosas do segmento gamer e ganhou destaque pela tecnologia e inovação que fizeram de seus jogos uma revolução nos games de luta. Idealizado por Ed Boom e John Tobias, os torneios mortais que narram os episódios da franquia foram inspirados pelos filmes de ação dos 80 que eram os preferidos dos criadores que, juntamente com a ideia exagerada vista nos kombates dos títulos, teve sua consagração principalmente pela presença de personagens marcantes.

O sucesso dos games e a rápida adesão do público ao universo de Mortal Kombat chamou a atenção da indústria do cinema que percebeu nos jogos uma possibilidade de adaptação para o celuloide objetivando ampliar a base de espectadores. Mortal Kombat ganhou três produções ao longo dos anos 90, mas com exceção do primeiro longa, não obteve o mesmo prestígio e reconhecimento dos jogos e causou decepção principalmente entre os mais aficionados pela série. Com a intenção de reproduzir a mesma concepção de enredo e personagens dos jogos, os filmes investiram na construção dos personagens evidenciando as características mais particulares de cada um para entregar um produto fiel experiência que os jogadores conheciam. Entretanto, a narrativa teve pouco destaque visto queque o próprio game não apresenta uma história forte e serve mais para construir um placo para lutas desenfreadas e personagens caricatos. Dessa forma, o desejo dos fãs de ver seus personagens preferidos interpretados por atores reais e em uma estrutura cinematográfica não foi concretizada.

Após o lançamento de Mortal Kombat 9 para Xbox 360 e PS3 que redefiniu os padrões da série em termos de jogabilidade, as especulações em torno de uma nova produção para o cinema voltaram às discussões. No ano de 2011, o seriado Mortal Kombat Legacy foi lançado para reforçar o lançamento do game e apresentou um novo padrão de produção que agradou ao público, porém um novo longa metragem ainda era aguardado.

Com a estabilização da série com os títulos Mortal Kombat X e Mortal Kombat 11, a nova versão cinematográfica da história dos guerreiros da Exoterra e do plano terreno finalmente ganha uma produção digna de seu sucesso, dedicada aos fãs e que comtempla os melhores elementos dos jogos, do seriado Legacy a até dos filmes antigos. A reunião desses elementos tem o intuito de diminuir algumas falhas originárias dos games para construir uma narrativa mais coerente e verossímil.

A história do filme traz como eixo principal o tema que dá origem aos torneios de Mortal Kombat: com o objetivo de regular as decisões e intenções entre o plano terreno e a Exoterra, os deuses ancestrais criaram um torneio em que os campões de cada plano se enfrentam para decidir quem governará os mundos. O plano terreno, liderado por Rayden e seus competidores como Liu Kang e Kung Lao, vem perdendo os torneios há muitos anos e se submetendo à liderança de personalidades mal-intencionadas como o feiticeiro Shang Tsung. O Deus do Trovão planeja uma virada no próximo torneio e com a ajuda de aliados procura campeões da Terra que tenham a marca do dragão. Essa marca é um símbolo que caracteriza o lutador como um escolhido e pode garantir a vitória dos kombates desde que sejam treinados adequadamente. Como uma forma de selecionar cautelosamente os lutadores para o próximo torneiro, Rayden espera que os escolhidos encontrem seu templo para serem dignos de defenderem o plano terreno. Neste sentido, Sonya Balde vem realizando uma intensa pesquisa sobre os torneios que acontecem ao longo dos séculos e juntamente com Jax Briggs, pretendem encontrar o local secreto para confirmarem suas hipóteses.

Enredo

A premissa do enredo guarda muitas semelhanças com o primeiro filme de 1995 destacando os personagens mais clássicos como Sonya, Kano e Liu Kang e excluindo fatos mais recentes como os aspectos familiares que foi desenvolvido nos dois últimos jogos. Nesta perspectiva, Mortal Kombat objetiva reiniciar sua própria produção cinematográfica começando com os elementos mais básicos e desenvolvendo a história para filmes futuros. Mesmo se pautando nos elementos mais conhecidos da franquia, o longa assinado por Simon McQuoid consegue mostrar avanço contando partes do enredo menos explorados nos jogos com cenas caprichadas e cativantes que oferecem progressão à história do universo de MK.

A cena de abertura comtempla um dos casos mais famosos e icônicos de Mortal Kombat que é a eterna rixa entre os clãs Shirai Ryu e Lin Kuei representados por Hanzo Hasashi e Bi-Han respectivamente. Essa rivalidade entre os clãs já havia sido mostrada em Legacy com mais detalhes, mas retorna no filme de 2021 para mostrar ao público e aos fãs de uma maneira concreta como Scorpion e Sub-Zero iniciariam suas rivalidades. Pela primeira vez em uma produção feita para o cinema, o público poderá ver as formas humanas dos famosos ninjas e aproveitar uma cena com lutas eficientes além de compreender o drama que Hanzo viveu com a família tornando-se um guerreiro que sobrevive no submundo do inferno e busca a vingança por toda eternidade.

Depois de alguns séculos, e com as vitórias dos guerreiros Exoterra, Bi-Han se consagra como Sub-Zero e se torna o principal aliado de Shang-Tsung na luta contra o plano terreno. No filme, a imagem do ninja de gelo, é destacada como um lutador poderoso, inteligente sendo o maior obstáculo para os kombatentes da Terra. Assim como nos filmes dos anos 90, os personagens mais icônicos da série são os elementos principais da trama e brilham na tela mesmo que orginalmente sejam personagens exagerados.

A apresentação de todos os personagens denro da narrativa do filme confere a Mortal Kombat uma credibilidade que os longas do passado não tiveram já que perfil de cada lutador e os elementos mais emblemáticos dos jogos como os fatalities são bem aproveitados e coerentes para a proposta do enredo. Sendo um filme dedicado àqueles que conhecem o universo de Mortal Kombat, os fãs poderão se divertir ao acompanhar a trajetória dos kombatentes ao mesmo tempo que podem aproveitar o humor ácido de Kano, a força e determinação de Sonya, a dedicação de Liu Kang e a competência de Kung Lao. Se um dos personagens do elenco for o seu preferido, você terá vários motivos para gostar deste modelo uma vez que os comportamentos estão bem representados e convincentes. Kano, que é interpretado pelo ator australiano Josh Lawson, se destaca pelas piadas constantes fidelizado o lutador que não mede esforços para estar sempre do lado mais vantajoso. A composição do personagem inclui diversas improvisações pensadas por Lawson que atribuem uma caracterização impecável a Kano que pode ser aproveitado para futuros jogos da franquia.

Para a apresentação visual dos personagens, a produção do figurino mantém a fidelidade das roupas e das cores dos “uniformes” que marcam suas identidades. Desde os braços mecânicos de Jax até as roupas militares de Sonya, todos os detalhas vindo dos jogos são aproveitados com qualidade incluindo pequenos detalhes como a faixa que Liu Kang usa. O acessório do ninja ganha um significado especial quando o lutador a amarra na cabeça após um evento traumático que será muito significativo para quem acompanha a série há bastante tempo. Mesmo com muito cuidado para representar a identidade e figurino dos personagens, Mortal Kombat consegue também se arriscar em algumas novidades como na personagem Mileena que aparece com um colante preto ao invés do convencional traje rosa e sem a máscara mostrando um outro aspecto da lutadora querida entre muitos fãs. Em busca de uma identidade própria, porém sem alterar drasticamente a concepção da série, a direção do filme opta também por incluir um personagem inédito que assume relevância para a história pensada para o longa.

Novo personagem

Cole Young é um lutador de MMA que compete em arenas de batalhas por duzentos dólares para sustentar a esposa e a filha. Sem grandes perspectivas de carreira, Cole é procurado por Jax Briggs por conta da marca do dragão que possuem no peito e ao se reunir com os aliados na defesa do plano terreno, ele descobre que é descendente direto de Scorpion e, por isso, se torna um lutador importante para o torneiro. Por ser um personagem exclusivo do filme, muitos fãs não entenderam por que a direção destacou um personagem que não era conhecido do público. Uma interpretação possível pode ser o fato de que o filme Mortal Kombat pretende oferecer um reinício para sua produção cinematográfica e trazer um lutador inédito para somar a esse universo. Além disso, vale destacar que uma sequência é esperada já que os eventos principais da narrativa como o torneio ainda não aconteceram.

Por ser inspirado em um jogo de luta, o filme de Mortal Kombat reinventa as cenas de enfretamento entre os protagonistas e entrega batalhas que vão além de coreografias ensaiadas. Os golpes são bem articulados e dentro dos padrões da mais alta qualidade encontrada em filme de ação do momento. Os embates acontecem aproveitando muito da estrutura do gameplay do modo história em que cada luta é gerada a partir de um evento específico. Dessa forma, a ação não se limita somente ao torneio principal e envolve os espectadores de maneira rápida e eficiente tal qual a mecânica do game.

Os fatalities marcam presença e acontecem de forma mais espontânea do que nos jogos mostrando o poder de cada lutador reforçando sua identidade. Kano executa o famoso arranca coração que e é seu falalitie mais antigo enquanto Kung Lao serra seu oponente com a técnica do chapéu. A seriedade e dedicação de Liu Kang são concretizados pelo seu dragão de fogo enquanto Sonya mostra que não faz o tipo princesa perfurando Mileena com sua arma letal.

Em relação ao roteiro, este aspecto foi sempre o mais criticado pelos fãs desde as primeiras produções uma vez que a história de Mortal Kombat enfrentou dificuldades para se ajustar ao formato do cinema. No entanto, vale destacar que a narrativa de Mortal Kombat nunca foi seu ponto mais relevante e essa característica apareceu nos filmes. É válido apontar que mesmo nos games, o enredo sofre com várias inserções de personagens e narrativas abruptas que confundem a progressão da história. A produção do filme busca amenizar essas inconsistências focando mais nos personagens clássicos e destacando o torneio principal para manter a coerência e estabilidade do filme. Portanto, o longa-metragem de Mortal Kombat não possui uma grande trama, mas visa manter as bases da série da forma mais concreta possível em uma adaptação para o cinema.

Para reproduzir todo o universo particular de MK, os produtores optaram por rodar um filme com o máximo de realidade nas cenas deixando a os efeitos especiais para os aspectos mais fantasiosos. A violência típica da série foi retratada com materiais que simularam o sangue, as vísceras bem como as armas e acessórios dos lutadores para conferir ao filme a autenticidade que os fãs sempre esperaram. Seguindo esse padrão, a produção do filme também prezou por localidades reais evitando os cenários digitais. O filme foi quase que integralmente gravado na Austrália aproveitando sua geografia diversificada para representar a distopia da Exoterra. Soma- se às qualidades técnicas os efeitos visuais que representam com fidelidade os poderes dos lutadores que usam de todo a tecnologia disponível para retratar nas telas o que é bem conhecido dos jogadores.

Vale a pena?

Mortal Kombat é uma experiência agravável para o público cinéfilo, porém será uma experiência definitiva para os fãs que há muito tempo se sentiam órfãos de um filme à altura dos jogos eletrônicos. O aproveitamento dos melhores elementos que consagraram a série faz do filme um produto digno de estar ao lado dos games e apaga quase em definitivo qualquer impressão negativa que as produções não executaram com tanta destreza apesar de serem bem-intencionados. O destaque para o perfil dos personagens mais famosos alinhados a forte estrutura do cinema faz com que o nome Mortal Kombat receba ainda mais credibilidade dos jogadores e do público em geral como um nome de respeito no segmento da cultura pop. Se vale uma dica a Warner, estamos esperando uma cópia em Blu-Ray do filme acompanhando alguma nova versão do game ou mesmo em Mortal Kombat 12 Ultimate Mega Edition.