Análise | Alex Kidd in Miracle World DX: Um jovem e seu reinado

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Categoria: Artigos, Games, Review

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Quando o jovem Alex treinava os segredos das artes marciais no topo dos morros uivantes, tudo o que ele mais desejava era atingir a maior eficiência nos golpes para se tornar um grande mestre e, com sorte, que ele encontrasse também uma boa refeição quando chegasse em casa.

Ao descer da montanha, Alex percebe que o reino de Radaxan está sob alerta e que Janken, o grande, tomou as terras e espalhou seus capangas para ajuda-lo em seu reinado de imposição. Alex, indo em encontro ao seu tutor, acaba descobrindo a verdade sobre sua pessoa e seu papel no reino de Radaxan e sai em uma jornada na busca de seu lugar de direito enfrentando inimigos e o próprio Janken para devolver a paz e a justiça para a terra que pertence a ele e seu povo.

A história que conta a luta pelo reino de Alex Kidd possui as típicas marcas de um jogo dos anos 80: um lugar em apuros por conta de uma figura tirana, um protagonista que descobre que é o salvador de todos e uma mecânica baseada em algum aspecto específico como as artes marciais. Fórmula de sucesso entre muitos games dessa geração, Alex Kidd in the Miracle World foi lançado em 1986 nos Estados Unidos e Japão sendo um grande sucesso no Master System não somente pela diversão e pela novidade que o título trazia, mas também por lançar o garoto Alex como mascote oficial da Sega.

Em um momento em que as principais empresas de jogos eletrônicos se mantinham no mercado pela imagem que construía junto ao público, ter um mascote que representasse toda a ideologia das empresas era uma estratégia efetiva e que solidificava o nome no mundo dos jogos eletrônicos que começava a se expandir. Enquanto a Nintendo encantava o público com Super Mário, a Sega buscava em Alex Kidd a mesma força de expressão. A ideia de um garoto que dominava as artes marciais e salvava seu reino de um ditador parecia ser uma história cativante, mas que, por algum motivo de impacto com o público, não vingou e o primeira mascote da Sega foi substituído mais tarde por Sonic The Hedgehog.

Mesmo com o enorme sucesso do ouriço azul como mascote oficial, Alex Kidd contou com quatro jogos para Master System e um jogo para Mega Drive sem contar o lançamento de Alex Kidd BMX Trial de 1987 comercializado somente no Japão. Todos os títulos foram recebidos com boa aceitação dos jogadores e fizeram considerável sucesso construindo uma carreira bem sucedida do personagem no cenário de jogos eletrônicos. Porém, com a velocidade e apelo juvenil de Sonic, Alex encerrou sua trajetória mais como um protagonista lembrado com muito carinho por jogadores de vários países.

No Brasil, os jogos do Alex Kidd fizeram ainda mais sucesso que em outros lugares muito por conta do apelo emotivo que o Master System teve no país. Mesmo depois de ser descontinuado em outros lugares do mundo, o console de 8 bits da Sega continuou com forte presença no Brasil por causa da crise financeira que atingiu o país nos anos 90 fazendo desse vídeo game uma opção mais acessível às pessoas. Como resultado, além de uma relação afetiva que os brasileiros tiveram com a marca e com o aparelho, alguns títulos foram imortalizados e outros foram produzidos com exclusividade para o Brasil. Tal fato, fez com que determinados jogos, e mesmo a versão nacional do Master System produzido pela TecToy, se tornassem itens de colecionador valendo verdadeiras fortunas no mercado internacional. Como consequência, os games do Alex Kidd também passaram por essa afetividade e Alex Kidd in the Miracle World ainda é lembrado por muitos brasileiros que o jogaram na época.

Após trinta e cinco anos de lançamento, a desenvolvedora Merge faz um remake do jogo trazendo todas as características que consagraram a obra original tendo como principal vetor de produção o respeito e um tom de homenagem que pode ser percebido em várias partes da aventura. Parece que a produtora escolheu com cautela a equipe que iria realizar o remake certificando-se de que todos os aspectos principais estariam presentes e de que os programadores e artistas envolvidos na produção eram grandes fãs do jogo, visto que o cuidado com a produção é extremo. Entretanto, é possível dizer que Alex Kidd e sua jornada pela paz não envelheceram bem depois de mais de três décadas e esse é um fato que a Merge poderia ter considerado para fazer a releitura do game.

Versão Repaginada

À primeira vista, Alex Kidd in the Mircale World DX é um jogo completamente novo por conta de seu visual mais polido e que expressa ainda mais a identidade do game do que anos atrás. A arte produzida é feita com base no pixel art e traz texturas e realismos mais interessantes do que os tons monocromáticos do jogo original. O próprio Alex Kidd recebeu um visual atrativo com cabelo maior e mais definido, um rosto mais expressivo e carismático além de uma perspectiva lateral mais bem trabalhada comtemplando uma proporção mais convincente e humana.

Um dos maiores destaque visuais do game de 2021 é que apesar de ser em perspectiva 2D, a arte traz um aspecto tridimensional causado pelos traços junto aos efeitos de luz e sombra que imprimem a impressão de um cenário volumétrico. Os planos de fundo foram construídos do zero e trazem cenários condizentes com cada fase mostrando o cuidado da produtora em deixar tudo coerente em termos de cores, perspectivas e arquitetura. Como exemplo, é possível perceber na primeira fase que se trata de um morro por conta das nuvens densas e do sol mais próximo à tela transmitindo a sensação de luminosidade e de calor. Conforme o personagem desce, a iluminação vai diminuindo e uma fonte de água aparece formando uma queda que desemboca no rio, palco da segunda fase de base aquática. No jogo original, a geografia dos estágios não foi considerada e parecia que Alex viajava de um ponto a outro não tendo qualquer conexão entre as regiões por onde passava. Na nova versão, todas as fases receberam um tratamento artístico especial entregando muita qualidade que se soma à experiência de jogo de maneira harmoniosa somando mais um ponto positivo em relação ao game de 86 que já era muito bom.

A trilha sonora de Miracle World foi marcante e muitos jogadores ainda se lembram dos temas que ficavam “grudados” na mente por muito tempo. Em Miracle World DX, toda as músicas foram mantidas e rearranjadas com mais vigor, mas mantendo as notas que consagraram o game. Desde a tela título até o castelo de Janken, todas as composições estão presentes de forma repaginada e coerentes com o trabalho artístico desenvolvido. Música e visual se encontram não só para provocar nostalgia, mas para mostrar que um trabalho primoroso também foi pensado para o novo título e merece destaque como uma composição nova que está alinhada à proposta.

Sobrevivendo ao tempo

Um fator técnico que chama atenção em Miracle World DX é a jogabilidade que foi mantida de maneira idêntica ao original no que diz respeito aos comandos ao mesmo tempo que novas funcionalidades foram inseridas. Algumas adições foram bem vindas como a forma que o jogo é salvo em relação ao número de vidas. Ao utilizar todas as tentativas, o jogador recomeça no início da fase onde estava, o que se torna uma forma mais interessante de manter o ritmo de um jogo que tem uma natureza simples.

Alex ainda se move da esquerda para a direita e dá socos em blocos que contém itens para o avanço da jornada exatamente no mesmo ritmo de 1986. É interessante notar que a velocidade e amplitude de pulo do personagem foram programados para responder como no controle do Master System, o que mostra mais uma vez a competência e respeito produzidos pela Merge. Porém, toda essa fidelidade acaba por repetir os mesmos deslizes de antigamente. O garoto das artes marciais ainda continua pesado e um pouco lento ao se mover pelas fases e o soco com pulo continua desengonçado como antes. Apesar do esforço de promover uma jogabilidade igual ao passado, estes aspectos aparecem como negativos dentro do jogo, pois remetem diretamente a um momento em que os controles não desfrutavam da mesma tecnologia e ergonomia de hoje. Vale ressaltar que uma atualização nos comandos os deixando mais fluídos seria o suficiente para permitir um gameplay mais equilibrado e atualizado para as plataformas em que o game foi lançado.

O nível de dificuldade também foi mantido com os mesmos desafios e armadilhas de antes que podem ser revividos e jogados novamente de uma maneira mais bonita e alinhada à realidade gráfica do momento. Isso significa dizer que durante os dezessete estágios, os jogadores que eram treinados e conhecedores das minúcias do jogo poderão usar de suas habilidades para superar os obstáculos como se fazia anos atrás. Manter o jogo no formato do original foi uma atenção tão grande da produtora que a função de alternar entre o título de 86 e o de 2021 é possível de ser feita com o toque de um botão. Dessa forma, cada parte do jogo novo tem seu correspondente no jogo original e vice-versa fazendo com quem joga possa avaliar os aspectos técnicos de cada jogo ou mesmo experimentar as duas aventuras da forma como preferir.

O remake de Alex Kidd in the Miracle World foi cogitado por muito tempo principalmente quando diversos outros jogos começaram a ter suas versões refeitas. Para este lançamento, o problema pode estar no tempo que este remake levou para chegar. Trinta e cinco anos de espaço entre os dois títulos pode ser um tempo muito longo e a fórmula de Alex Kidd, apesar de já ter sido utilizada também em outros jogos, não envelheceu bem e compromete parte da experiência de jogo deixando o game pouco interessante e tedioso depois de algumas horas jogando.

Destruir blocos, andar em diferentes veículos, passar por armadilhas e enfrentar chefes no Jan Ken Po não corresponde a mesma experiência de antes muito por conta dos diferentes estilos de jogos que apareceram na atualidade. Tais títulos são mais envolventes e trazem histórias elaboradas que, quando lançadas em grades quantidades como no mercado atual, permitem um grau de comparação maior entre os títulos. No caso de Miracle World DX, a experiência com o jogo fica menos impactante em comparação ao original e longe do estilo dos games do momento. Dessa forma, o jogo da Merge feito com muita dedicação e respeito não traz defeitos técnicos ou mal produzidos, mas um problema relacionado ao tempo e a forma como lidamos e aproveitamos os vídeo games e seus jogos que produzem mundos e aventuras únicas que não cansamos de explorar repetidas vezes.

Veredito

Desenvolvido com muito respeito e harmonia em relação ao game original de 1986, Alex Kidd in the Miracle World DX apresenta fatores técnicos e artísticos de primeira qualidade entregando uma proposta repaginada de um jogo considerado clássico por muitas pessoas. Partir na aventura junto com o garoto comedor de hambúrguer é uma experiência interessante até certo ponto do jogo, já que as mecânicas e dinâmicas mantidas do original não trazem a mesma empolgação promovida pelo original.

Nota 7,0

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