Em Assassin’s Creed Shadows no PS5, o Japão feudal ganha vida com visuais deslumbrantes e dois protagonistas marcantes, mas a fórmula Ubisoft ainda carrega o peso de velhos hábitos, entregando uma aventura épica que brilha mais nas sombras do que na luz plena.
Chegamos a mais um capítulo da saga Assassin’s Creed, e desta vez a Ubisoft nos leva ao tão aguardado Japão feudal com Assassin’s Creed Shadows. Lançado em março de 2025 para o PlayStation 5, o jogo finalmente realiza o sonho de muitos fãs que, desde os tempos de Assassin’s Creed II, imaginavam como seria explorar um mundo de samurais e shinobis. Eu, como alguém que acompanha a série desde o primeiro salto de fé de Altaïr, mergulhei de cabeça nessa aventura para ver se ela entrega o que promete. Spoiler: é uma experiência que brilha em muitos aspectos, mas não escapa de alguns tropeços familiares.
Jogar Shadows no PS5 é, antes de tudo, um deleite visual. A Ubisoft Quebec caprichou na recriação do Japão do período Sengoku, com suas florestas densas, vilarejos pitorescos e castelos imponentes. A iluminação dinâmica, especialmente no modo Performance a 60 FPS, dá vida a cada cenário, com sombras que dançam conforme o sol se move ou as tochas tremeluzem. Mas nem tudo são flores: em áreas mais escuras, como cavernas ou noites sem lua, a visibilidade pode ser um problema, mesmo ajustando o brilho da TV. É um detalhe que me irritou em algumas missões stealth.
A história nos apresenta dois protagonistas: Naoe, uma shinobi ágil e letal, e Yasuke, um samurai histórico de origem africana que serviu Oda Nobunaga. A dualidade entre eles é o coração do jogo, tanto na narrativa quanto na jogabilidade. Naoe carrega o peso de uma vingança pessoal, enquanto Yasuke busca redenção em uma terra que o vê como estrangeiro. A troca entre os dois é fluida, mas confesso que demorei a me acostumar com o ritmo inicial, já que Yasuke só é liberado após cerca de 8 horas de jogo focadas em Naoe.
O Japão Feudal em Detalhes
O mundo aberto de Shadows é um dos mais imersivos que já vi na série. Cada região tem sua própria identidade, desde os portos movimentados até os templos silenciosos nas montanhas. A Ubisoft fez um trabalho louvável ao incorporar elementos históricos, como a presença de Oda Nobunaga e o caos da guerra civil, mas sem perder o toque ficcional que a franquia exige. Ainda assim, senti que o mapa, embora vasto, às vezes parece mais um checklist de atividades do que um espaço orgânico para exploração.
As mudanças de estação e o clima dinâmico são um destaque à parte. Ver a neve cobrir os telhados ou a chuva transformar os caminhos em lama adiciona uma camada de realismo que eu não esperava. Isso também afeta a jogabilidade: em uma missão, usei a névoa para me infiltrar em um acampamento inimigo com Naoe, algo que não teria sido tão fácil sob o sol claro. É nesses momentos que o jogo mostra seu potencial.
Por outro lado, a base dos assassinos – ou “hideout” – me deixou dividido. A ideia de construir e personalizar o local é interessante, com opções como forja, dojo e estábulos, mas na prática parece mais um extra desnecessário. Passei horas coletando recursos para melhorias, só para perceber que elas não impactam tanto a experiência principal. É o tipo de mecânica que parece ter sido incluída só para dizer que está lá.
Naoe e Yasuke: Dois Lados da Mesma Moeda
Naoe é, sem dúvida, a estrela do show. Seu estilo de jogo foca em stealth, com movimentos ágeis, ganchos para escalar e uma variedade de ferramentas ninja, como kunais e bombas de fumaça. Controlá-la me lembrou os dias de glória da série, quando o foco era ser um predador nas sombras. Há uma missão em que apaguei todas as lanternas de um castelo para me mover sem ser vista – foi puro Assassin’s Creed.
Yasuke, por outro lado, é uma força bruta. Seu combate é visceral, com golpes pesados que quebram a postura dos inimigos, mas ele é um desastre em stealth. Tentar esgueirar-se com ele é quase cômico, com animações desajeitadas que me fizeram rir mais de uma vez. Ainda assim, quando o objetivo é enfrentar um exército inteiro, ele brilha. A diferença entre os dois é refrescante, mas sinto que Yasuke poderia ter sido mais equilibrado.
A narrativa que une os dois é sólida, mas não revolucionária. Há momentos de tensão e reviravoltas, especialmente na segunda metade, quando a trama dos Templários ganha força. Porém, o enredo moderno – aquele fio que conecta todos os jogos – está praticamente ausente. Como fã de longa data, senti falta de um avanço na história de Desmond e seus sucessores. Parece que a Ubisoft ainda não sabe o que fazer com essa parte da franquia.
Jogabilidade: Evolução ou Estagnação?
A jogabilidade de Shadows é uma mistura do que vimos em Origins, Odyssey e Valhalla, mas com ajustes. O parkour, por exemplo, perdeu a liberdade total de escalar qualquer coisa, limitando-se a pontos específicos. Isso torna a movimentação mais previsível, mas também mais travada – um passo atrás em relação aos jogos anteriores. Subir em um telhado e escorregar sem querer foi uma frustração recorrente.
O combate, por sua vez, ganhou profundidade. Naoe usa ataques rápidos e precisos, enquanto Yasuke aposta em força e gerenciamento de postura, algo que lembra Sekiro. É satisfatório, mas não perfeito: a IA dos inimigos oscila entre burra e implacável, o que quebra a imersão em alguns momentos. Certa vez, um guarda me viu assassinar seu colega a dois metros de distância e não reagiu. Em outra, fui caçado por meia vila por causa de um tropeço.
As missões principais são bem estruturadas, com liberdade para escolher entre stealth ou confronto direto. Já as secundárias variam: algumas, como duelos ou contratos shinobi, são ótimas; outras, como coletar itens ou escoltar NPCs, parecem fillers genéricos. É o velho problema de Assassin’s Creed: quantidade nem sempre é qualidade.
Aspectos Técnicos no PS5
No PS5, Shadows oferece três modos gráficos: Fidelity (30 FPS com ray tracing), Balanced (40 FPS em 4K upscaled) e Performance (60 FPS). Joguei quase tudo em Performance, e o jogo roda liso na maior parte do tempo, com quedas raras em áreas densas como o hideout. Os tempos de carregamento são rápidos, cerca de 13 segundos do menu ao jogo, o que é um alívio comparado aos 144 GB de Valhalla.
Os visuais são de cair o queixo, especialmente em cenas diurnas com reflexos na água ou folhas caindo ao vento. Mas há falhas: clipping em roupas e objetos, além de bugs ocasionais, como inimigos flutuando ou travados em paredes. Nada que estrague a experiência, mas são detalhes que mostram que o polimento poderia ser maior.
A trilha sonora é outro ponto alto. As músicas capturam o espírito do Japão feudal, com tambores e flautas que intensificam as batalhas e momentos de tensão. Os efeitos sonoros, como o clangor das espadas ou o farfalhar das folhas, também são impecáveis. Já a dublagem em inglês é competente, mas recomendo jogar com áudio em japonês para uma imersão extra.
O Que Funciona e o Que Falha
Shadows acerta ao trazer um Japão feudal vibrante e dois protagonistas carismáticos. A dualidade entre Naoe e Yasuke é um sopro de ar fresco, e o foco em stealth com Naoe resgata o DNA da série. As mecânicas de luz e sombra, como apagar lanternas para se esconder, são um toque genial que eu gostaria de ver mais explorado.
Por outro lado, o jogo sofre com a “síndrome Ubisoft”: um mundo aberto cheio de ícones que, às vezes, parece mais uma lista de tarefas do que uma aventura orgânica. A base dos assassinos e algumas missões secundárias são exemplos claros disso. Além disso, a ausência de uma narrativa moderna significativa é uma oportunidade perdida.
Comparado a Mirage, que voltou às raízes com um escopo menor, Shadows é mais ambicioso, mas também mais inchado. Não chega ao exagero de Valhalla, mas ainda carrega um pouco daquele peso desnecessário. É como se a Ubisoft quisesse agradar a todos e, no processo, diluísse um pouco o foco.
Vale a pena?
Assassin’s Creed Shadows não é o melhor da série – esse título ainda pertence a Black Flag ou Brotherhood na minha opinião –, mas está entre os mais sólidos dos últimos anos. Ele entrega o Japão feudal que os fãs pediam, com visuais estonteantes e uma jogabilidade que, apesar de familiar, tem seus momentos de brilho. Naoe e Yasuke são adições memoráveis ao panteão de assassinos, mesmo que o equilíbrio entre eles não seja perfeito.
Para quem cansou da fórmula Assassin’s Creed, Shadows pode não ser o divisor de águas que reconquista corações. Mas para os fãs de longa data, como eu, é uma jornada que vale a pena – com algumas ressalvas. Depois de 40 horas, terminei o jogo satisfeito, mas não extasiado. É um passo na direção certa, mas a série ainda precisa de um salto de fé maior para se reinventar de verdade.
Se você tem um PS5 e curte história, stealth ou apenas quer se perder em um mundo belíssimo, Shadows é uma escolha segura. Só não espere uma revolução. No fim, é mais um Assassin’s Creed – para o bem e para o mal.
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